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mardi 13 mai 2008

A Crítica do preconceito contra a sociologia do conhecimento: Resumo de uma análise do Coeficiente Existencial do Conhecimento Científico



Por

Jacob (J.) Lumier

©2008 by Jacob (J.) Lumier

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No histórico da compreensão do caráter não-causal da sociologia do conhecimento, em C. Wright Mills nota-se uma decisiva substituição da dogmática “causalista” propagada na teoria mannheimeana do “pensamento socialmente determinado” [1], em favor de uma abordagem próxima da “perspectivação sociológica do conhecimento” – que põe em relevo a ocorrência das correlações funcionais – embora este autor não utilize esta última expressão, introduzida por Gurvitch.



Wright Mills põe em questão o preconceito de alguns autores contra a sociologia do conhecimento. Seu notável estudo sobre as “Consecuencias Metodologicas de la Sociologia del Conocimiento[2] é uma réplica ao posicionamento conservador em matéria do progresso científico.

Embora W. Mills não disponha do termo “quadros sociais do conhecimento”, cujo conteúdo articula e aplica, nesse artigo refuta a proposição dogmática de que estabelecer relações (ou correlações funcionais) entre modos de pensamento e situações histórico-sociais não implicaria uma crítica legítima. Acentua que a sociologia do conhecimento conduz a uma reformulação dos critérios “tradicionais” de “validade e verdade” derrubando o posicionamento negativo de que a “validade de um juízo não dependeria de sua gênese”.

W. Mills se opõe aos autores que a contrapelo dos dados da experiência persistem em não ver conseqüência epistemológica da sociologia do conhecimento mostrando-lhes por contra que as pesquisas sociológicas das indagações ou das seleções e proposições de problemas têm sim conseqüências para as normas do verdadeiro e do válido.

Entretanto, não se pense que esse sociólogo é radical. Sua abordagem tem alcance mais amplo que a orientação em pensamento causal dos discípulos de Karl Mannheim. Tanto é assim que, ao contrário desses últimos, W. Mills afirma que, na hipótese de identificarmos a ‘posição social’ de um pensador não podemos deduzir daí a verdade ou a falsidade de suas formulações ou enunciados.

Nessa réplica ao preconceito contra a sociologia do conhecimento, em face de opositores fechados no argumento falacioso de que as condições sociais não influiriam na veracidade das proposições, Wright Mills afirma então incumbir-lhes indicar quais são as condições de que a veracidade depende realmente.

Além disso, W. Mills ressalta a legitimidade da “relativização sócio-histórica” – isto é, a relativização sociológica operativa à qual ele vem se referindo – e denuncia o tratamento à maneira transcendente dos critérios ou dos modelos de observação e verificação, bem como o exagero da concepção a-priori da mente como inteiramente lógica.

Em seqüência esse autor nota que a diversidade histórica dos mencionados modelos de observação e verificação favorece o argumento atribuído a John Dewey de que se trata de modelos originados por indagações ou seleções e proposições de problemas realizadas em determinadas épocas e em uma sociedade particular, e que os ditos modelos de observação e verificação são deduzidos dessas indagações.

Ou seja, em relação ao problema da escolha ou “eleição” dos modelos de verificação, a aceitação ou a rejeição dos mesmos por parte de pensadores individuais e de elites constitui no dizer de Wright Mills uma das conjunturas nas quais fatores extralógicos, possivelmente sociológicos, podem intervir e influir sobre a validade do pensamento de uma elite.

Embora sem dispor dos termos sociológicos precisos de quadros sociais e de coeficientes existenciais do conhecimento, Wright Mills está a nos mostrar exatamente alguns aspectos básicos do que estes termos sociológicos designam. Daí prossegue articulando a compreensão que lhes corresponde e avança duas considerações para esclarecer a mediação observada na correlação funcional integrando a atividade científica no conjunto da vida social.

Na primeira consideração de análise sociológica, W. Mills constata que as referidas indagações ou seleções e proposições dos problemas sofrem a influência dos “contextos sociais” pela mediação dos próprios conceitos operacionalizados nas formulações dos pensadores, já que os conceitos existem como “significados socialmente condicionados”.

Trata-se de reconhecer que, como semântica e sintaxe, a linguagem é inseparável de sua dimensão pragmática, na qual se inclui a dimensão sociológica. Desta sorte, em face de certas indagações ou seleções e proposições dos problemas, é legítimo admitir haver uma influência do inter-relacionamento entre os conceitos culturalmente disponíveis, por um lado, e, por outro lado aquilo que se toma como problemática.

Em suma, existe uma correlação funcional interligando os significados culturais e a as problemáticas selecionadas pelos pesquisadores, sendo por meio dessa correlação que as indagações científicas são introduzidas no conjunto da vida social.

Na segunda consideração de análise sociológica, W.Mills sustenta uma “teoria social da percepção” segundo a qual, na busca de verificação dos elementos empíricos, os conceitos existentes condicionam os resultados da indagação, porquanto são esses conceitos que constituem estruturalmente “o mundo de objetos estruturados tecnicamente na linguagem especializada”, o mundo no qual se busca a verificação.

Daí, Wright Mills afirma em realismo sociológico que “elites técnicas diferentes possuem capacidades de percepção diferentes”, e que “as dimensões observacionais de qualquer modelo de verificação sofrem a influência da linguagem seletiva de quem o aplica”, com as “influências sócio-históricas” se fazendo sentir por meio dessa linguagem.

Desta forma, ficam desautorizados os que, preconceituosamente, negam a relevância da sociologia do conhecimento para a epistemologia, tanto mais se considerarmos o impacto dessa “teoria social da percepção” nas condições da verdade como simples correspondência da experiência e dos fatos.

***



[1] Mannheim, Karl: ‘Ideologia e Utopia: uma introdução à sociologia do conhecimento’, tradução Sérgio Santeiro, revisão César Guimarães, Rio de Janeiro, Zahar editor, 2ªedição, 1972, 330 pp. (1ªedição em Alemão, Bonn, F.Cohen, 1929; 2ªedição remodelada em Inglês, 1936).

[2] Wright Mills, C.: ‘Consecuencias Metodológicas de la Sociología del Conocimiento’, in Horowitz, I.L. (organizador): ‘Historia y Elementos de la Sociología del Conocimiento – tomo I’, artigo extraído de Wright Mills, C.: ‘Power, Politcs and People’, New York, Oxford University Press, 1963; tradução Noemi Rosenblat, Buenos Aires, EUDEBA, 3ªedição, 1974, pp.143 a 156.

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